Certo dia, quando eu fazia observações em uma sala de Ensino Fundamental de uma escola pública, eu e a professora da turma estávamos observando se havia cadeiras e carteiras para todos dentro da sala de aula. Eram 33 alunos e às vezes quando eles chegavam pela manhã, a sala estava desorganizada e faltavam lugares para sentar.
Cheguei próximo de um aluno e perguntei:
– Pedro*, onde você está sentado? – Perguntei.
– Não quero sentar agora, preciso falar com ele! – Respondeu nervoso, apontando para o colega.
– Eu não disse pra você sentar, eu perguntei onde está sentado.
– Caaaalma professora, eu só quero falar uma coisinha pra ele. – Respondeu mais nervoso ainda.
– Não é isso Pedro! Preste atenção! Só preciso saber se você tem cadeira, por isso preciso saber onde você está sentado!
– Aaaah que droga viu, só queria mostrar a figurinha pra ele.
Ele não conseguiu ouvir o que eu estava falando. Irritou-se e sentou resmungando.
O dom de ouvir
Já parou pra pensar o quanto é irritante quando não somos ouvidos? Reclamamos que nossos filhos ou alunos não nos ouvem com uma frequência muito grande.
Mas eu estive atenta e descobri uma coisa embaraçosa: Nós não ouvimos as crianças, em primeiro lugar.
– Mãe, olha o que…
– Dá licença pra mamãe, agora estou resolvendo coisas de adulto.
Ou
– Pai, por que os cachorros…
– Agora não! Pai está vendo esse filme.
Antes que contestem eu já assumo: As interrupções são muitas e seriamos monges se conseguíssemos ter paciência e dar atenção para todas. Não é disso que estou falando. Mas é que podemos mostrar que há uma hora melhor pra falar, mas que lembramos e queremos ouvir o que a criança tem a dizer.
Quantos de nós, depois de dizer “Agora não!” lembramos de perguntar depois o que nosso(a) filho(a) queria nos falar?
Ou fingimos prestar atenção. Essa é a melhor! E até você vai lembrar de ter passado por isso:
– Nossa, filho! Que legal. Agora pega aquele sapato que está ali no meio da sala pra mim.
E ficávamos pensando: “Acho que ela passou o tempo inteiro pensando no sapato no meio da sala, nem sei se me ouviu”.
É ou não é verdade?
Às vezes julgamos que o que uma criança tem pra nos dizer não é importante. Mesmo que tivéssemos certos, não é importante para quem? Para ela, talvez seja muito importante. Ser ouvida e valorizada dará segurança pra que ela se expresse, pra que ela comunique o que pensa e sente e pra que ela tenha autoconfiança. Quem não quer isso para o filho?
Aí vão algumas dicas:
Reserve um momento para a conversa. Seja a hora do jantar, o papo na cama antes de dormir ou um momento só de vocês. Isso diminuirá as interrupções e deixará que a criança tenha esse espaço de diálogo.
Quando for interrompido, avise que não pode conversar naquele momento e porquê: “Estou trabalhando, você precisa de ajuda agora? Depois que eu terminar, você me conta e poderei dar atenção.”
Quando disser “Agora não posso conversar”, retome a conversa mais tarde. Não se esqueça. Pergunte o que ele queria lhe dizer.
Ouça atentamente, olhe nos olhos, converse! Se fosse um adulto, você faria o mesmo.
Fonte: http://www.paisqueeducam.com.br/2014/05/01/o-que-seu-filho-fala-e-importante-voce-esta-o-ouvindo/